Eu nunca fui um Rolling Stone
eu nunca soube me divertir.
Tenho usado essa newsletter como uma experiência de produção de um novo álbum musical (você pode ler sobre isso aqui), quem segue esse bloguinho recebe umas músicas que só existem por aqui1, mais ou menos como faziam os antigos nos anos 2000.
Aqui abaixo temos a demo (na verdade a versão 7) de “Eu nunca fui Rolling Stone”.
Gravar sozinho em casa com instrumentos baratos e em equipamentos antigos é um tipo de loteria em que você tem uma ideia, um esboço em mente, mas quase nunca chega no resultado que você havia inicialmente imaginado. Você começa sem saber o que vai acontecer e muitas vezes não acontece nada, meu computador é cheio de rascunhos que não chegaram a lugar nenhum. Outras vezes você tem uma canção que soa muito bem quando você toca informalmente, mas que quando você se dispõe a grava-la acaba se tornando um tipo de muro impenetrável. Você fica tentando encontrar brechas e formas de contornar o que não está dando certo até desistir ou ceder ao desejo da canção de se tornar o que ela queria ser. Acredite quando dizem que a arte se impõe sobre a vontade e isso nenhuma inteligência artificial vai conseguir emular.
”Eu nunca fui um Rolling Stone” surgiu em cima de riff que queria ser meio Bruce Springsteen/Tom Petty, um acorde sol com uma oitava dissonando que nunca entendi porque soa tão sedutor e meio errado2. O problema é que o riff não funcionava como fio condutor da canção de jeito nenhum, nem gravar uma guia eu conseguia. A solução foi começar pelo baixo e quando você começa uma canção pelo baixo são grandes as chances de terminar escrevendo um pós punk3 sem querer. Então a canção que originalmente era country virou um rock anos 80 dançante de 120bpm por sua própria vontade, desta vez o ritmo venceu. O baixo e bateria centrais deram espaço para as guitarras ficarem livres e pude experimentar coisas que normalmente nunca teria usado. E ai começa o perigo de esticar uma canção que deveria ter 3 minutos por 4, 5 minutos pra ficar criando camadas que no fim não dizem muita coisa (desculpa, fãs de shoegaze). No fim tirei quase tudo, dei espaço para a batida ser a coisa mais importante e modéstia à parte, o final ficou bem gostosinho. Me deu até vontade de fazer uma versão “gótico suave” e esticar o final por uns 3 minutos pra ficar batendo o pé no chão, fiz um videozinho4 dançando desengonçadamente pra exemplificar.
A letra é uma ironia sobre coisas que duram por tempo demais, por mais tempo do que deveriam. Também tem uma onda meio Bobby Jean do Bruce Springsteen escrevendo para um velho amigo, “ter uma banda só me fez perder os melhores amigos que fiz”.
Eu nunca fui um Rolling Stone
eu nunca soube me divertir5
eu nunca quis algo que durasse mais
do que o meu próprio tempo
eu nunca fui um Rolling Stone
eu nunca soube me divertir
adoraria estar em casa e ver minha TV
deitar num gramado ruim
mas eu nunca fui um Rolling Stone
eu nunca fui até o fim
ter uma banda só me fez perder
os melhores amigos que fiz
e ganhar um ruído no ouvido
uma culpa que me impede de dormir
mas eu nunca fui um Rolling Stone
só visto o mesmo jeans
do dia que nos conhecemos
você acreditou em mim
mas eu nunca fui um Rolling Stone
eu nunca soube te divertir
“O livro da revelação (apocalipse)”, primeira canção de “Gospel Irônico”, estará no streaming no dia 03 de julho.
aqui temos uma gravação da ideia original.
Já repararam como toda década desde a invenção da música pop foi movida por um instrumento? sem pensar muito nos anos 50 tivemos a voz, nos anos 60 a guitarra, nos anos 70 o teclado (acho que a bateria também entra aqui), nos anos 80 o baixo, nos anos 90 o sample.
eis a referência
Na verdade gravar canções é bem divertido, vocês deveriam experimentar.