Os Discos Perdidos de Bruce Springsteen
Chico Buarque feliz: Bruce Springsteen vai lançar 7 discos inéditos. Chico Buarque triste: não são os que eu queria.
Bruce Springsteen anunciou o lançamento de uma caixa com 7 álbuns “perdidos” gravados entre 1983 e 2018. Tracks II está previsto para 27 de junho e, em uma primeira olhada na lista das faixas, parece que os álbuns vão dos lados b de singles de Born In the USA (johnny bye bye, shut out the light), passam pela fase da bateria eletrônica e cavanhaque do começo dos anos 90, entram nos anos 2000 e terminam nas sessões que antecedem o álbum country Western Star de 2019.
MAS: os álbuns que eu realmente queria acho que ele nunca vai lançar de maneira decente.
Bruce Springsteen alimenta sua própria lenda guardando um monte de discos que gravou e nunca lançou. Esses álbuns planejados e nunca lançados foram aparecendo desfigurados em lançamentos que começaram em 1998 com Tracks e 18 tracks. Já as sobras do Darkness on the edge of town, de 1978, viajaram o mundo da pirataria por décadas e só foram lançadas oficialmente em 2010 no álbum triplo The Promise. Basicamente Bruce Springsteen pegou todas suas canções de amor que compôs entre 1976 e 1978 e jogou fora. Em Promise está a versão de because the night da Patti Smith e fire das Pointer Sisters.
Em 1980 Bruce Springsteen lançou The River, o primeiro grande hit, Hungry heart, finalmente veio, mas o que pega realmente é o que aconteceu em 1979. Ele abortou um disco de punk/powerpop e a 1ª versão do The River, que originalmente se chamaria The ties that bind e seria lançado no natal de 1979. Os álbuns nunca vieram ao mundo, mas as canções constam no box The ties that bind: the river collection1 lançado em 2015. Inventei o álbum punk para o Spotify, mas repara na jaquetinha e a camiseta vermelha. Hungry Heart foi escrita para os Ramones gravarem no End of century.
Em 1981 Bruce Springsteen gravou um disco de "country'n soul" que também foi abortado. A barra foi tanta que ele mal menciona a produção perdida deste período em sua autobiografia. A historia que contam é que a depressão bateu, ele largou o projeto, sua banda de apoio E Street Band e o resultado foi o álbum Nebraska, gravado sozinho num quarto de hotel2 usando um gravador de 4 canais e lançado no ano de 1982. Canções deste álbum perdido apareceram em dois discos solos do Gary Us Bond produzidos por Steve Van Zandt e Bruce Sprinsteen. Desta mesma fase veio Cover me e Protection - duas canções originalmente escritas para a Donna Summer gravar. O maior bootleg do Nebraska elétrico é wages of sin, considero a pedra inicial do slowcore.
Nebraska se tornou cultuado, amado por punks e tradicionalistas, recebeu tributos que deveriam executar versões das canções sob as mesmas condições. A ironia é que se Bruce Springsteen não tivesse depressão e largado a banda uma sequência de álbuns não existiriam como conhecemos, o melhor exemplo? imagine um mundo sem Total Eclipse of the heart. Max Weinberg e Roy Bittan, bateria e piano da E Street Band, tocaram no Faster than the speed of night da Bonnie Tyler. Roy também arranjou o álbum Bella donna da Stevie Nicks e saiu em tour com a cantora. Como nem tudo é perfeito ele também fez o pianinho breguissimo do hit do Air supply Making Love Out of Nothing at All.
O álbum de 1979 são as 10 primeiras músicas da caixa. Nunca superei a versão original de Stolen car que parece um filme do Terence Malick.
Recentemente levaram Bruce Springsteen de volta ao quarto que ele gravou Nebraska. É o tipo de turismo que eu faria.